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Caderno de viagem #1


Piccadilly Ciurcus
Piccadilly Ciurcus, Londres, Reino Unido. 13 de abril de 2023 (foto de arquivo pessoal)

Londres é uma cidade que recebe pessoas de diferentes países e culturas e, não apenas como turistas, mas, como imigrantes que buscam construir uma nova vida no Reino Unido (RU).

Relatório publicado pela Biblioteca da House of Commons (uma das casas que compõem o Parlamento do RU) identificou que a população de estrangeiros vivendo no Reino Unido se concentra em Londres. 37% dos moradores da cidade nasceram em países não britânicos, enquanto se for considerada toda a população do Reino Unido, 14% é composta de estrangeiros.

A diversidade é tanta que podemos viajar por mais de dez países sem sair da grande Londres por meio da culinária e de caminhadas por localidades que se tornaram polos de imigrantes. Assim sendo, não é muito difícil você iniciar uma conversa ou laços mais próximos com pessoas que vêm de uma realidade cultural bem distinta da britânica e, poderia até generalizar e dizer bem distinta da cultura ocidental - por mais que nem sempre possamos colocar tudo no mesmo saco sempre.


E em meio a esta convivência ou do simples observar das dinâmicas do dia a dia e das relações neste multiverso cultural, tenho refletido muito sobre como a inclusão, de fato, demanda muito mais do que respeito, principalmente quando se trata do Estado, das Cidades e das Empresas como atores de sua promoção.


Para que acompanhem com maior fluidez o que direi nas próximas linhas trago uma definição possível para o que quero dizer quando digo inclusão. Quando uso a palavra inclusão me refiro a um processo no qual medidas de diversas naturezas são tomadas para que as pessoas consigam participar da vida em sociedade independente dos fatores que fazem parte do que elas são quanto a condição física, etnia, crença religiosa, poder econômico, grau de escolaridade, gênero, opção sexual, etc.


Aqui em Londres eu tenho visto movimentos bastante interessantes e felizes no que se refere ao Ramadan, por exemplo, que é um período sagrado para os Islâmicos no qual eles intensificam suas práticas religiosas. Vi instituições britânicas permitindo que seus funcionários que exercem esta fé combinem com suas chefias horários especiais que os possibilite manter de forma salutar suas tradições espirituais. E falando sobre Estado e Cidades, luzes festivas e um painel dizendo “Happy Ramadan” estão instalados na região da famosa e agitada Picadilly Circus. Segundo o The Guardian, Londres tornou-se a primeira cidade europeia a montar uma grande estrutura decorativa de celebração ao mês de Ramadan.


Indo por este mesmo caminho, vi uma grande empresa de fast food fazendo propaganda de uma opção feita sob as regras da alimentação Halal (segue regras específicas do Islamismo) em um banner enorme na frente de uma de suas unidades.


Outros exemplos que posso dar são placas em lugares públicos que indicam que determinados caminhos não são apropriados para cadeirantes, e, mesmo, os avisos de lugares prioritários nos ônibus que pontuam explicitamente a quem ainda não se ligou que as condições que fazem as pessoas terem direito à preferência naqueles assentos podem não ser aparentes.

E falando agora da inclusão dos cidadãos nos processos de construção de políticas públicas por meio do que chamamos de participação social - que é um dos pilares da minha atuação profissional -, a região de Thornton Heath, por exemplo, elaborou um plano de revitalização local desenhado com a participação de sua população, que, por sua vez, é composta por um número significativo de imigrantes.


Eu poderia citar alguns outros exemplos da inclusão sendo mais do que respeito e tenho certeza que vou identificar tantos outros exemplos de boas práticas que ratificarão esta minha percepção e darão ainda mais corpo para minha reflexão e pesquisa. Mas, por hora, é o que compartilho para convidá-los a este fluxo de pensamentos e olhares que me têm preenchido o dia.


A questão é, a inclusão existe, de fato, quando a diferença de cada grupo e indivíduo não apenas não passa por olhares de julgamento, mas, também, e igualmente importante, quando essa diferença faz parte do que se espera das relações, das rotinas, dos processos. Seja na prestação de um serviço público, no desenvolvimento de uma política pública, na elaboração de uma escala de trabalho ou no convite para o jantar que nós fazemos a um amigo.


Eu tenho repetido e ratificado cada vez mais que para que a diversidade e a inclusão (D&I), sejam, de fato, materializadas nas mais diversas realidades, principalmente institucionais, é fundamental que elas sejam tratadas, endereçadas de forma estratégica, como um fim que, para ser alcançado – e mantido vivo - requer estudo, planejamento, execução e monitoramento. Entender do que se tratam essas duas palavras, o que elas querem dizer dentro da nossa realidade ou da nossa empresa, e como nós ou nossa organização podemos fazer delas algo tangível no curto e longo prazo, são algumas das questões que podem ser respondidas e, talvez, devam ser respondidas. Elas são capazes de nos levar a um contexto no qual a D&I poderão passar a permear nosso dia-a-dia sendo algo (muito) além do que termos e conceitos inafastáveis para um bom discurso alinhado com as pautas do presente e do futuro.


Pois bem, Inclusão é de fato inclusão quando ela vai além do mínimo a ela. É o que vejo, percebo e analiso de onde estou hoje.

Assim encerro este primeiro transbordar e olhar para o que Londres tem me convidado a revisitar, descobrir, aprofundar e partilhar.


Que estas palavras tenham te levado a bons lugares no agora e criado sementes para o que você espera e planeja para o amanhã.


Eu sou Jéssica Leite, futurista, pesquisadora, artista e incansável entusiasta da cocriação positiva do agora e do amanhã.


Até a próxima.

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