Caderno de viagem #2
- Jéssica Leite
- 6 de out. de 2023
- 5 min de leitura

Grandes metrópoles têm o dom de trazer em si um mix de culturas e recantos nos quais você pode viajar para diferentes países por meio da culinária, dos adornos e dos próprios transeuntes que falam em sua língua natal com os seus.
Esta mistura rica de gente me leva sempre a pensar sobre o que nos une enquanto seres humanos.
Imigrantes que deixam suas terras sem data de volta, se colocam em uma situação de se adaptar a uma realidade que, à primeira vista, tem tudo para ser completamente fora do que tem sido sua zona de conforto desde então.
Se por um dado momento podemos pensar que estes imigrantes perderiam suas raízes e costumes, se nos colocarmos em seus sapatos e passarmos a observar ao redor, nos deparamos com o óbvio. Suas referências iniciais de costumes e práticas, em grande medida, se mantêm neles de alguma forma, mesmo que estejam distantes da terra que os foi berço de nascimento.
E uma prova dessa manutenção, ou busca por ela, está nos diferentes bairros que são formados por uma maioria de imigrantes de determinado país.
Aqui na Grande Londres temos alguns exemplos disso. A Chinatown, localizada próximo da badalada região de Soho, foi se constituindo como um recanto não apenas da culinária da China como, também, de mercados, clínicas de saúde, lojas de amenidades e outros estabelecimentos que nos levam a um mergulho na cultura chinesa.
Southall, no borought de Ealing, é conhecida como a "Little India" (Pequena Índia). Nela habita um número significativo de indianos e seus descendentes, característica, essa, que também se mostra nos tipos de estabelecimentos existentes, itens vendidos no mercado e adornos vistos pela região.
Todas essas ilhas culturais, dentre as tantas outras que tenho visto, por mais que possam de início apontar para uma espécie de clusterização cultural, ainda assim, me levam a identificar algo que nos une enquanto seres humanos, que é o seguinte: Nós buscamos manter as nossas mais íntimas referências mesmo quando nos propomos viver o novo.
Dito isso, podemos, então, pensar sobre a importância daquilo que nos faz diferentes em nossas vidas. Aqueles traços que, mesmo que não sejam o padrão de determinado ambiente no qual nos colocamos, ainda continuam sendo inegociáveis a nós, ainda são o que faz com que nos reconheçamos como somos.
E se nos permitirmos refletir um pouco mais, podemos chegar ao seguinte entendimento: Aquilo que nos diferencia é também o que nos une.
Se eu parto do pressuposto que o diferente em mim é relevante assim como o diferente no outro é importante a ele, é neste espaço de compreensão que mora nosso ponto em comum. Para nós dois a diferença que temos importa para que sejamos quem somos.
E vocês podem estar daí pensando “Ok, bacana Jéssica, mas, qual é o sentido prático disso?”
Pois bem, estes pontos que levantei podem parecer apenas divagações sem implicações práticas, mas, segue aqui comigo para mais uma reflexão para ver como não é bem assim.
No momento em que vivemos ainda nos deparamos com a ideia de que um grupo de pessoas (sociedade, país, equipe de trabalho, empresa) só faz sentido enquanto tal se reproduzirem comportamentos entendidos como normais naquele contexto, ou, em outras palavras, padrões de comportamentos que uma maioria ou grupo que detêm o poder (de mentes e corações) determina como sendo o certo.
Nesta reflexão considero aqueles pontos da nossa vida que caberiam apenas a nós decidir e que, a grosso modo, não causam efeitos negativos na liberdade do outro.
Considerando este espaço de intimidade do ser, podemos afirmar que ainda somos levados a seguir padrões referentes a religião, vestimenta, alimentação, relacionamento, opinião política, escolha profissional dentre tantos outros temas.
Ainda no século XXI, as pessoas são julgadas por seguirem aquilo que não se entende como “normal” na sociedade na qual se encontram. Tantas outras pessoas sofrem preconceitos raciais, de gênero, religiosos e outros, que os impede de estar em determinado ambiente de trabalho, exercer determinados direitos, se relacionar com quem sentem de se relacionar, da forma que querem se relacionar, sem que sejam alvo de opressão (social, estatal, familiar).
Considerando este contexto, podemos, então dizer que ainda vivemos sob a ditadura do aquilo que é dito como normal, sendo este normal, em sua maioria, um aglomerado de padrões tóxicos e que nos impedem sobremaneira de expressarmos aquilo que realmente ressoa em nós.
Vamos agora, então, mudar esta lógica e entender que o normal a partir deste momento é ser não-normal, o normal é ser diferente, o padrão é não ter padrão uno. Isso seria revolucionário, não?
Imagine uma sociedade em que os olhares de julgamento não são direcionados àquele que se expressa de forma autêntica e se permite, assim, estar bem consigo e com todos a sua volta; Imagine reuniões de trabalho em que as pessoas são se sintam acuadas em discordar de um colega por não ter a mesma visão; Imaginem só um Governo em que as políticas públicas fossem construídas e executadas pautadas em um processo comprometido em considerar e atender ao máximo de diferenças possíveis.
Compreender a diferença como algo que nos é caro é um ponto que nos une, é um ponto comum. Considerar este fator é um caminho para soluções que atendam, cada vez mais, à construção de um futuro comum e feliz a toda a humanidade e a todos os seres que com ela se relacionam nesta Terra.
Posto tudo isso, quero que saibam que eu não tenho a expectativa de que concordem comigo e nem que considerem as palavras que disse verdades absolutas, não são a mim e não espero que sejam a vocês igualmente.
Aqui, eu me permito o questionar e o refletir sobre o que as diferentes camadas das pessoas, situações, movimentos humanos e sociais têm a nos contar. Por isso, reflito, (re)penso e compartilho como um ciclo de refino e alargamento de mente e visão.
Até este momento, o que vivi me comprovou que estar no espaço da observação, do questionar e da mutabilidade é, também, cocriar novas realidades onde tudo que foi pode ser repensado para fazer sentido no hoje e permitir um futuro que nos seja ainda mais coerente e feliz.
Para os que ficaram instigados a refletir mais e aplicar o revolucionário olhar de que “A diferença é o que nos une”, deixo aqui a dica de procurarem ferramentas de comunicação, desenvolvimento de projetos e liderança pautadas na Não-violência, na Empatia, na Diversidade e na Inclusão.
Sorte a nossa que o tal do novo normal já tem dado as suas caras.
Espero ter contribuído de alguma forma para bons insights e convites ao refino de suas percepções sobre o outro, a vida e tudo mais que os circunda.
Eu sou Jéssica Leite, Futurista, Pesquisadora, Artista, Terapeuta e uma eterna apaixonada e praticante da possibilidade de vivermos em um mundo com mais Amor, Equidade e Prosperidade.
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